A escolha do coração

A jovem aspirante sentia seu corpo inteiro desabar interiormente, um Cavaleiro de ouro estava na frente dela e ao escutar as suas palavras se sentiu como um ser inferior, afinal era um ser muito mais fraco que aquele Cavaleiro, se sentiu esnobada por ele e derrotada ao vê-lo partir a tratando como uma qualquer, apesar do vento quente passar pelo seu corpo todo o seu corpo estava frio e mordia o seu lábio inferior por frustração. Abaixou a cabeça com seus cabelos cor de fogo ficando sobre a mascara, prestes a fazer o que o Cavaleiro lhe falou, a jovem sentiu um cosmo, muito mais poderoso que já sentia antes, não era um cosmo humano disso ela tinha certeza e ele a encheu novamente com aquele sentimento que sentiu no inicio. Com o corpo imobilizado ela ouviu atentamente uma voz, era voz da Deusa Atena, suas palavras encheram Galathea de confiança, sua Deusa havia ouvido a sua prece e havia vindo ajuda-la e guiaria a garota e aprovava a sua decisão.
Depois das palavras de encorajamento de Atena e sentindo seu corpo voltar ao normal, ela via o homem seguindo em frente e com os movimentos leves em seus pés ia caminhando em sua direção fazendo de tudo para não se pega, mas sabia que levaria tempo para que o Cavaleiro percebesse e isso se confirmava, Galathea o via se virar e com um breve suspiro, ela lhe respondia após ouvir as palavras do Cavaleiro de Ouro de Escorpião.

- Perdoe-me pela minha insolência, mas seus dizeres respondem as minhas ações senhor Cavaleiro, devo seguir meus instintos e eles me dizem para segui-lo, sei que estou perdendo algo importante em minha vida, mas acredito que me arrependerei se não acompanha-lo e nossa adorada Deusa Atena está comigo e me ajudou a tomar a decisão que eu já havia tomado antes. Pense o que quiser de mim grande Cavaleiro de Ouro, mas não fugirei daquilo que acredito ser o certo!

A jovem aspirante falava com confiança em sua voz, apertando com força seus dedos contra a palma de sua mão e sua respiração calma e controlada e seus olhos por trás da mascara o fitavam com determinação, mas ignorou o comentário relacionado ao seu sangue, não por acha inconveniente e sim por não entender o motivo de tal palavras a ela, então preferiu ignorar por enquanto até saber o porque dessa afirmação.

O vento naquele momento era forte, mesmo com seu rosto protegido pela mascara ela mal conseguia enxergar, mas mesmo assim não perdia de visto o Cavaleiro a sua frente. Aos poucos o vento se tornou uma leve brisa, deixando assim a jovem aspirante mais calma com que acontecia, sua admiração diante da armadura era imensa, nunca viu antes algo tão belo e detalhado, as armaduras que já vira antes, nenhuma realçava o tão belo brilho de encontro ao sol, ela se perguntava se apenas as 12 armaduras sagradas de ouro eram assim.
Contudo o Cavaleiro não parecia feliz, Sorios a olhava de um jeito intimidador, parecia aborrecido com a companhia dela, ela engolia em seco ao ato dele, seu coração pulsava violentamente contra o peito e um frio percorria a sua espinha, mas mesmo diante disso ela não desistiria.
Ao voltar a andar a aspirante continuava a segui-lo, mesmo não escutando o que ele balbuciava, aquilo não a intimidava continuaria o seguindo, após segui-lo por minutos ele parava e a olhava de um jeito intimidador, mas a jovem Galathea continuava firme e forte em seus atos e em suas decisões e percebeu que estavam perto de uma floresta, porém não era uma floresta qualquer, era um local proibido e longe do Santuário, ela estava tão entretida em segui-lo que nem percebeu para onde ia, estava longe dos domínios do local de onde esteve por anos e não conhecia nada daquele lugar, um forte tremor se apossou de seu intimo, mas ao ouvir as palavras de Sorios tudo se dissipava, a deixando mais relaxa e mesmo ela ainda estranhando o fato do Santo Cavaleiro indicar que seu sangue é doce, a jovem preferiu não falar sobre isso ainda e deixar aquilo para o momento certo.

- Em nenhum momento eu, Galathea, pensei que seria fácil, por muitos anos minha vida não foi fácil e sei que não será agora que agora que tudo irá ser facilitado, e agradeço ao senhor Sorios por me ajudar, fico honrada e grata!

A aspirante fazia uma breve revência ao Cavaleiros de Ouro mostrando o seu respeito para o mesmo e também a confiança depositada nele, mesmo sendo a primeira vez que se viam, confiaria em seus instintos e em Atena ficando ao lado de Sorios.

Galathea ficou encarando Sorios por muito tempo, não se deixando intimidar nem por ele e nem pelos gritos lamuriosos que vinha do portão, ela esperava pelo próximo movimento ou pelas próximas palavras do Cavaleiro, antes mesmo dela perceber, a jovem via dois ferimentos, um em cada pulso dele e olhava aquele liquido vermelho saindo delas, provavelmente sangue, mas se perguntava o porque daquilo.
Quando percebeu melhor viu que não era sangue, nunca que sangue poderia sair e ficar naquela quantidade no chão, nessa hora Galathea entendeu que se tratava do veneno do Escorpião. A poça ia crescendo cada vez mais chegando até ela, a fazendo se afastar um pouco temerosa pelo que aconteceria se tocasse no veneno, mas ela não fugiria. Tinha chegado muito longe para desistir agora, estava decidida e ficaria até o final.
Assim que olhou para Sorios percebeu seu olhar mais intimidador do que antes a fazendo engolir em seco, mas continuando firme onde estava. Ao escutar as palavras de Sorios, Galathea ficava pensativa, não iria morrer, iria sobreviver, mas o fato de desapegar as suas lembranças poderiam ser demais, mesmo não tendo muita lembrança de seus pais ela sentia ainda o carinho e o amor que eles sentiam por ela, foi a essas memórias que a fez superar muitas coisas em sua vida perde-las poderia ser demais para a jovem, mas se não havia outro jeito para conseguir o que queria ela faria.

- Senhor Sorios, se é para me tornar uma amazona, eu, Galathea, irei abandonar qualquer lembrança e sentimento de meu passado, irei mostrar que posso ver uma amazona, sempre lutei muito para realizar esse desejo e não vou desistir agora, me mostrarei digna para ser sua pupila.


Após dizer tais palavras, ela ficou ereta demonstrando sua determinação, saberia que o ritual poderia ser doloroso ou até mesmo fatal para ela, mas mostraria que conseguiria passar por ele, conseguiria passar pelos quinze pontos sem fraquejar e assim se tornar uma guerreira amazona.

A dor lasciva tomava conta de todo o seu corpo, apesar do seu grito ter cessado, ela ainda podia ouvi-lo ecoando de seus ouvidos e de seu cérebro, um golpe limpo porém doloroso, com seus joelhos e ombro esquerdo necrosando cada vez mais. Com tudo ela se levantava quase caindo novamente de joelhos, a cada movimento um gemido de dor saia pelos lábios da jovem tentando se mostrar digna. Com seus olhos ardendo e teimando com que as lágrimas caíssem deles, há certos momentos na vida que chorar pode ser considerado sinal de força, mas naquele momento o choro mostraria fraqueza e isso Galathea não deixaria transparecer, iria se fortalecer e mostrar que pode vencer.
Com o veneno correndo por cada ponto de seu interior, sentia também todas as suas lembranças se esvaindo trazendo um pesar muito grande em seu coração, mas perder as memórias de quem foi e de onde veio iria se superado, afinal a jovem aspirante concordou com isso e iria até o fim.
Galathea sentia o seu corpo começar a tremer, mas colocou um pé na frente do outro, se arrastando e fazia os três pontos vermelhos ficarem mais evidentes mostrando o golpe do escorpião em seu corpo em contraste com a pele ficando mais preta por obra da necrosa. Pode ter sido efeito do veneno ou até mesmo do golpe, mas a aspirante via uma uma jovem garota de cabelos negros atrás de Sorios, o fato de ver mais alguém ali a deixou surpresa e meio atordoada, mas por alguma razão estranha pode sentir que a jovem misteriosa estava na floresta para ajuda-la a concluir o desafio de Sorios, com tudo as palavras do Cavaleiro desviaram a atenção de Galathea, voltando a olhar para ele.
As palavras dele realmente faziam sentido, as dores que sentia, o estado que seu corpo se encontrava era a prova, sentindo o seu sangue pulsante contra o seu corpo a jovem continuava a encarar Sorios, graças a mascara a expressão de dor era escondida, mas ela sabia que ele podia notar o sofrimento nela, uma simples mascara não impede alguém que já conhecia o sofrimento de perto mostrar algo evidente, tentando erguer mais o seu corpo se mostrando mais confiante a jovem dizia:

- Sim, eu vou continuar... não importa se meu o corpo... ou a minha mente não aguentarem... o meu espírito continuará lutando, eu vou ser uma amazona... mesmo que eu perca todas as... minhas lembranças... eu lutarei e serei... uma amazona!

Caida sobre a grama da floresta a aspirante podia sentir, com dificuldade, sua respiração e seu coração batendo contra o peito, confusa com que aconteceu, não percebeu o momento que as 13 agulhadas foram desferidas contra a mesma. Apenas notou a diferença no olhar de Sorios, algo maligno fez todo o seu corpo se arrepiar e agora estava jogada no chão como se fosse nada, sentindo o seu sangue saindo deixando o seu corpo pouco a pouco.
Os gritos melancólicos vindos do portão ecoavam pelos ouvidos de Galathea junto com as palavras do Cavaleiro, cada palavra que ele dizia, fazia a mente quase sem vida pensar.
Tudo que ela mais queria era se tornar uma amazona, não é apenas algo dito da boca pra fora, não seria um simples sonho, o tornaria real, todo o seu sangue e suor derramado durante os treinamentos debaixo do sol quente, durante as chuvas torrenciais e até mesmo no frio da noite, Galathea não deveria morrer, não agora que estava tão perto, ainda podia sentir a sua pele sofrendo pelas mudanças de clima, seu corpo doendo após todos os exercícios, as cicatrizes que ganhou sempre que se machucava nos duros treinos, mas que a fazia seguir mais em frente, essa longa estrada que ela caminhou chegando até aqui.
Se lembrando ainda do pouco que lhe resta de memória, com a visão turva por causa da falta que sentia do sangue, lágrimas começavam a brotar de seus olhos e escorriam por eles, a água quente que seu corpo produzia acariciando a pele da aspirante e com um movimento rapido, ela fechava os olhos.

Pensamento de Galathea:

-"Não... eu não posso morrer... preciso lutar... conseguir realizar o que quero, não lutei por nada, vou vencer, tenho que vencer... sobreviver..."

Com os olhos ainda fechados, trincando os dentes, Galathea sentia algo quente percorrendo o seu corpo, todas as células de seu corpo vibravam era a sua cosmo energia despertando dentro de seu corpo, graças a isso, a jovem ia movimentando o seu corpo lentamente e com certa dificuldade. Cambaleante de frente ao Cavaleiro de Ouro, com as lágrimas secas em seu rosto escondido pela mascara e com a respiração ofegante contra a mesma.

- Sorios, você disse que vivo de de falas e sonhos, não é? Certo, então eu provarei que irei resistir, vou resistir a Antares como uma verdeira amazona e não morrerei diante desse desafio! Vou agir e serei uma amazona!

Depois de dizer tais palavras, a aspirante mantinha o seu cosmo despertado , mesmo com o sangue ainda escorrendo pelas feridas, ela não se importava, mostraria digna de ser o que sempre sonhou.

Galathea sentia o golpe a atingir em cheio em seu tórax, a fazendo cair com tudo contra o chão, porém ao em vez de se sentir pior, ela pode sentir o seu sangue parando de jorrar e sua respiração, antes falha, se normalizar a cada segundo. Seu corpo estava mais leve e conseguia se levantar aos poucos, mas ainda sentindo algumas dores nos locais que sofreu os golpes, já de pé a jovem olhava para as costas de Sorios e escutava o que ele dizia, e sem que a mesma percebesse suas lágrimas saiam de seus olhos por trás de sua mascara. Com uma leve reverencia ao Cavaleiro de Ouro, ela dizia:

- Muito obrigada, senhor Sorios, prometo ao senhor e a Deusa Atena que farei de tudo para ser uma amazona forte e digna da armadura de Ofíuco.

Ao voltar a sua postura normal, ela sorria em meio as lágrimas, ainda contemplando as costas do Cavaleiro, feliz consigo mesma por ter consigo passar por este duro teste e por ter mostrado que seus sonhos e sua determinação não eram fracas e simples, e sim algo do qual sempre quis e faria de tudo para se tornar verdadeiramente uma amazona.

A mais nova amazona seguia Sorios com seriedade e determinação, notando que o ambiente mudará e estavam perto de uma montanha, mas mesmo assim não era pior que a antiga, sentindo o calor do lugar batendo contra o seu corpo com apenas uma leve brisa a refrescar, contudo ela não via problema assim como não via em carregar a urna de sua armadura, o suor escorria pelo seu rosto por trás da mascara e suas pernas pareciam chumbo a medida que andava, mas ela se negava a mostrar algum tipo de cansaço eminente.
Ao ver Sorios se sentar em uma pedra e olhar para a mesma, ela ficava imovel e escutava atentamente as palavras de seu mestre.
Não estranhou o fato de ali ser o seu local de treinamento e começava a entender mais sobre o cosmo e sua importância para os cavaleiros e amazonas, mas não sabia muito sobre o sétimo sentido, porém a forma de como desperta-lo ainda a intrigava, mas lembrava que o despertou quando resistiu as agulhadas de Sorios, com certeza seria a terceiro método: Lutar por aquilo que acredita, mas mesmo assim a amazona ficou pensando nas outras possibilidades, talvez despertaria algum dia para proteger alguém e o despertar por ódio seria algo que ela nunca faria, será? Tal pensamento invadiu sua mente, nunca em sua vida sentiu ódio por alguém, porém nada sabia de seu futuro e era bem capaz que encontrasse um inimigo que a fizesse sentir ódio até o fundo de seu ser, mas não haveria de se preocupar agora.
Entendeu que ela mesma deveria desperta-lo, uma cosmo energia maior do que havia feito antes para despertar o seu sétimo sentido, poderia ser complicado, mas faria de tudo para conseguir.

- Entendido mestre Sorios, mas o que acontece com aqueles que conseguem despertar? Ou que não sabem sobre sua verdadeira essência?

Poderia ser até uma pergunta simples e boba para os ouvidos de seu mestre, mas Galathea gostaria de saber o que Sorios diria sobre tal pergunta feita, curiosa em saber tal atitude ele tomaria diante à essa pergunta.